opinião

O que leva as pessoas a se doarem a uma causa?



Nesta última semana, tive um encontro daqueles que não apenas nos enchem de alegria, pois nos levam a recordar do tempo de estudante, mas que nos fazem pensar sobre os caminhos da vida. Encontrei uma colega de escola que, há quase 10 anos, desenvolve trabalho humanitário com um grupo de amigos na África.

É muito raro encontrar pessoas dispostas a mudar os rumos da própria vida em favor de terceiros, sem quaisquer laços de sangue, ainda mais numa sociedade tão focada no materialismo e no individualismo. Ouvindo ela falar de sua experiência naquele continente, onde se encontram os países mais pobres do mundo, com os maiores índices de desnutrição, fiquei pensando no que leva uma pessoa a abrir mão de seus objetivos particulares para trabalhar por uma causa social. A empolgação com que ela falou de seu trabalho ultrapassa o simples ato de se doar sem esperar nada em troca. Vai muito além de uma boa ação ou de uma opção de vida. É um exemplo a ser seguido.

Há estudos que dizem que solidariedade é uma característica desenvolvida, não inata. Para comprovar tal teoria, a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos (EUA), realizou uma pesquisa com 34 bebês entre um e dois anos de idade. Os participantes foram divididos em dois grupos. No primeiro, um pesquisador sentava-se junto à criança e rolava uma bola para frente e para trás, interagindo com ela. Já no segundo, havia duas bolas, uma para o bebê e uma para o pesquisador que, de forma proposital, deixava que ela escapasse, para observar se a criança teria a iniciativa de ajudá-lo. Os resultados do estudo demonstraram que as crianças do primeiro grupo, que brincavam com o pesquisador, tiveram probabilidade três vezes maior de ajudar do que as do segundo grupo, sugerindo que a solidariedade, o altruísmo dependem do estabelecimento de uma relação.

Essa é uma informação importante para pais e, principalmente, para educadores, que devem incentivar a adoção de atitudes altruístas nos seus filhos e alunos. Ser solidário deve ser uma regra, como as demais normas de educação. No entanto, a educação não pode ser permissiva ou autoritária. Pois nenhum desses é um canal ideal para a transmissão de valores. Para promover valores sociais, como a solidariedade, é necessário que a criança receba uma educação mais democrática, em um ambiente afetivo e comunicativo positivos, onde ela também tenha liberdade para se expressar.

Deve-se trabalhar a empatia nas crianças, ou seja, o despertar da preocupação pelos demais. Ensinar as crianças a se colocarem no lugar do outro, ajudando o colega a levar a mochila, colaborando com ele na realização da tarefa. Incentivar o compartilhamento da merenda, brinquedos e livros e o trabalho em equipe, na arrumação da sala de aula. Dar bons exemplos. Contar histórias de pessoas que fizeram da generosidade, bondade e solidariedade seus objetivos de vida.

Incentiva-se a solidariedade combatendo gestos, atitudes e comportamentos egoístas, cômodas e intolerantes das crianças. A solidariedade é o altruísmo que se aprende e se consolida com a prática e o exercício. Quando passamos a pensar no próximo, nos integramos aos outros, o que possibilita entender melhor o mundo. São pequenos gestos que podem transformar a realidade, mudando para melhor a vida de todos nós.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Intervenção federal no Rio. Solução ou paliativo? Anterior

Intervenção federal no Rio. Solução ou paliativo?

'Não creias impossível o que apenas improvável pareça' Próximo

'Não creias impossível o que apenas improvável pareça'

Colunistas do Impresso